Concurso Arena BSB

A requalificação do Complexo Esportivo e de Lazer Arena BSB, no Setor de Recreação Esportivo Norte (SRPN), impõe-se como uma ação de cidadania e de preservação do inestimável patrimônio modernista, em função da sua localização privilegiada no Eixo Monumental e pela ampliação da oferta de atividades esportivas e culturais no SRPN que é de uso público, infelizmente mal gerido, mas com papel significativo na formação de grandes atletas e com equipamentos esportivos de qualidade arquitetônica.

Por isso é tão presente na vida da cidade e na importância da requalificação do seu tecido urbano, que de acordo com a visão humanista de Lucio Costa, em Brasília Revisitada, o complexo tem papel de destaque no espírito de preservação da feição original de Brasília como cidade parque. O Complexo Esportivo e de Lazer Arena BSB se distribuiu por dois volumes que enfatizam a norte a escala bucólica a ser implementada, e, o eixo Norte-Sul, com o desenho da Praça das Águas, que propicia a transição da escala monumental já instalada para a visão de uma Brasília mais acolhedora.

A praça dialoga em diferentes escalas com o contexto do entorno e a proposital não eleição de um acesso privilegiado é a resposta encontrada às situações de transparência e permeabilidade das frentes urbanas desejáveis em cidades inclusivas e democráticas. A própria definição formal e a articulação dos grandes espaços, internos e externos, numa relação intensa e privilegiada tanto com os magníficos estádios como com a cidade é mais uma referência explicita à sua construção de vanguarda técnica e artística, e no profundo conhecimento e respeito pelo território. Em Brasília, o vazio é qualificador e constituinte do valor atribuído ao bem tombado, assim a proposta constrói um elo histórico e casual com as necessidades contemporâneas e a incompletude do SRPN e seus arredores.

A proposta da arquitetura para o complexo esportivo, de lazer, entretenimento e cultura para Arena BSB abriga o extenso programa em dois edifícios-marquises. A oeste da Praça das Águas os equipamentos esportivos e a leste o restante do programa, com ênfase nos grandes “becos” ou largos onde a vida urbana possa fluir em toda a sua oferta de entretenimento e cultura. A arquitetura é construída por uma extensa marquise que abriga o programa e proporciona diferentes formas de participação com o entorno, seja pela transparência visual, seja nos espaços como um jogo de escalas em diálogo com a cidade, seja pelas coberturas em terraço, públicas e ajardinadas, evitando pontos de ruptura na continuidade visual do tecido urbano, propiciando e valorizando o percurso e a vivência em todo o complexo, permeável e conectado a cidade. Os espaços que acomodam e distribuem o programa surgem como adições construídas de acordo com as necessidades do empreendimento, que relacionando-se através de aberturas, mediam a escala do gesto contemplativo com o exterior e criam um interior inesperado de uma arquitetura associada à vida do quotidiano.

A implantação transborda para além dos limites da área ao se apropriar das características do tecido urbano envolvente e nele destacar a importância do Estádio Mané Garrincha. O impacto do boulevard não se restringe somente às áreas A e B impostas no zoneamento, e, por esse motivo, e também pela especial atenção à dimensão ambiental das soluções construídas, propõe-se o arranjo dos exteriores da totalidade da área com o uso de soluções passivas a partir do paisagismo que contempla o aspecto ambiental (pisos permeáveis, bio-valetas, jardins de chuva, tetos verdes com techgarden e lagos de contenção), o aspecto social (ciclovias, pistas de caminhada, acessos aos transportes coletivos, caráter de parque aos espaços livres) e também o aspecto cultural propondo as “ramblas” do cerrado e o museu do futebol a céu aberto, tendo como ponto central a homenagem ao Mané Garrincha e a arquitetura de seu “templo”.